*Lúcio Rangel A. Ortiz
Para todo objetivo ser bem sucedido numa boa ação humana, o método (dividir ações em partes) é o melhor caminho para ser seguido para alcançar resultados práticos. É o método que orienta critérios de como se chegar a algum lugar, a uma finalidade pelas ações para serem realizadas e feitas de forma cuidadosa e criteriosa.
A pastoral, enquanto sua etimologia em si, vem da palavra "pastor" que significa ação de pastorear, cuidar, guiar alguém ou várias pessoas para um caminho, que no caso da comunidade cristã católica, ao Reino de Deus, ou seja, de uma realidade de pecado, sofrimento, violência, angústia, tristeza, injustiça para uma realidade de graça, felicidade, caridade, solidariedade, alegria, certeza da fé convicta, justiça e vivência do exercício do amor.
Toda pastoral da Igreja é um processo de seguimento de Cristo, que se acompanha e continua a evangelização, de forma encarnada permanente na vida. É a projeção de ser discípulo e apóstolo de Jesus, na perseverança, maturidade e crescimento da fé cristã. Em termos de sistema integral da nova evangelização, a pastoral é uma etapa pós-querigmática (anúncio primeiro do Evangelho), que prepara o cristão com momentos fortes de conversão pessoal pela catequese e receptividade-atividade da missão da Igreja. É assim a edificação da fé de forma sistemática e organizada de forma integral. <<>> É a ação do momento de ser discípulo missionário, com o trabalho de unir fé e vida permanente.
A dinâmica do Ver, Julgar e Agir, que faz parte da Igreja como sua principal metodologia (conforme "Gaudium et Spes" do Vaticano II, Ação Católica, CELAMs de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida, e Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja), é o modelo de capacitar todo cristão que abraçou a vocação de ser agente pastoral para fazer uma análise da realidade em conjunto com quem convive em comunidade, a fim de discernir soluções efetivas para os problemas do dia-a-dia, para que depois reveja (avalie) e celebre com elementos litúrgicos da Igreja e da própria comunidade a "Palavra de Deus" com os sacramentos e a vivência cristã contínua. Vejamos cada uma então.
1°) A dinâmica do VER: é a dinâmica de conhecer a realidade, olhar o que se quer transformar, a fim de verificar as causas mais profundas dos problemas (principalmente os problemas sociais). Neste momento metodológico, é bom tomar cuidado para não se ter opiniões paternalistas, preconceituosas ou moralistas, que caem nos “achismos” da vida, que vê a realidade distorcida, sem análise criteriosa ou ser superficial. Para observar a realidade, é preciso superar opiniões fanáticas (fundamentalizações das verdades ou se achar o dono da verdade pela impressão que convém ou pelo gosto de razões impostas de grupos ou organizações de forma inquestionável), opiniões ingênuas (que não se chega ter as próprias conclusões e muda a opinião de forma fácil, volátil, como “Maria vai com as outras”), opiniões medíocres (que se posiciona pelo que a maioria pensa ou que aceita o que a mídia coloca sem questioná-la porque não pensa, reflete e raciocina). Neste VER, o principal e fundamental é tirar conclusões com senso crítico, ou seja, buscar-se o maior número de informações possíveis do assunto desejado e não descartar nenhuma hipótese do que está por trás do problema para alcançar a verdade "nua e crua" e "doa a quem doer'. É o critério da veracidade autêntica de consciência crítica sem achismos ou manipulações dos meios de comunicação ou instituições com suas políticas ou interesses. A situação da análise dos fatos com suas causas e consequências, num contexto local, regional e nacional, proporciona uma visão até mais científica dos problemas, observando-se a conjuntura e a estrutura, os cenários, os agentes ou atores sociais (interessados), correlação de forças e que se chega a uma conclusão da realidade da verdade dos acontecimentos. As causas e o contexto são importantes para se observar a conjuntura e a estrutura da realidade. É nesta visão de conjunto apurado que se fazer o VER de forma perspicaz (eficiente e eficaz) que é uma referência para um planejamento de pastoral de conjunto (união das pastorais da Igreja numa ação comum). É saber ligar dados, informações e tendências possíveis da realidade da sociedade e da comunidade que vive tendo claro conscientemente uma visão de mundo mais apurada e abrangente.
2°) A dinâmica do JULGAR: é a etapa da iluminação, ou seja, de remeter a análise da realidade para os valores cristãos diante da Palavra de Deus, que se encontra na Bíblia e no Evangelho - "Sagradas Escrituras". Mas esse julgar não pode ser reducionista ou literal em trechos bíblicos, sem analisar os fatos da realidade com suas causas e consequências. O julgar tem como fim em verificar a responsabilidade ética pessoal e comunitária de cada cristão com os princípios evangélicos e também com o cuidado de não se fazer pré-julgamentos, pré-conceitos, ou preconceitos dos fatos. Com a reflexão crítica do ver da vida e o julgar pela fé, questionamentos levam o cristão a fazer alguma coisa efetivamente para que a Palavra de Deus seja vivenciada de forma concreta e real.
3°) A dinâmica do AGIR: é ação dinâmica concreta depois da reflexão do ver com o iluminar pela fé, a fim de se realizar uma ação transformadora verdadeiramente cristã, e que não seja paternalista, nem ingênua e nem autoritária. O amor comprometido e solidário é estruturado. A caridade de assistência social, emergencional ou promocional é bem-vinda e ajuda, como campanha de doações por exemplo. Mas de qualquer maneira, precisa-se construir bases para uma nova sociedade que a Igreja propõe. É aí que entra a Igreja ser comunidade de base, a qual reúne as pessoas para orar, rezar, estudar a bíblia e a doutrina social cristã, dialogar, dinamizar e integrar seus participantes, assim para formar, informar e celebrar a eucaristia. É o momento de formação de conscientização cristã transformadora, crítica e libertadora pelas comunidades eclesiais de base ou pequenas comunidades e nas pastorais da Igreja. E que após esta organização de formação de consciência crítica dos cristãos, que vem o projeto de construção de estruturação de obras que não são assistencialistas, como cooperativas, associações, ONGs (Organizações Não-Governamentais) para atenderem e solucionarem problemas, convertendo-os em promoção de vida digna a todas as pessoas, principalmente aos mais pobres, carentes, miseráveis e necessitados (que geralmente são expostos a risco de violência, criminalidade e drogas). É, enfim, a concretude cristã da fé que liberta o oprimido, o pobre, o excluído do Anti-Reino.
Por seguinte, vem a dinâmica da proposta do REVER (AVALIAR), que foi inserida nas pastorais e na ação pastoral para verificar se houve falhas nas ações do MÉTODO VER-JULGAR-AGIR para corrigir e melhorar posteriormente num ciclo da dinâmica metodológica. E, por fim, a dinâmica do CELEBRAR, que é festejar e comemorar tudo o que a vida proporciona, tendo a fé da esperança do Cristo ressuscitado como meta, aquele que vence toda situação de morte e pecado, principalmente, o pecado social (o que gera sofrimentos e flagelos da desumanidade e que precisam ser revertidos). O celebrar é realizar a civilização do amor, da esperança e da fé de que um mundo melhor é possível, de que o Reino de Deus se faz aqui e agora na realidade em que se vive - é viver Deus na comunidade e na sociedade.
No Brasil, as pastorais reconhecidas pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) por seguirem o referido "método Ver-Julgar-Agir" são: Pastoral Afro-Brasileira, Pastoral dos Brasileiros no Exterior, Pastoral Carcerária, Pastoral Fé e Política (CEFEP - Centro Nacional Fé e Política "Dom Hélder Câmara"), Pastoral da Comunicação (PASCOM), Pastoral da Criança, Pastoral do Menor, Pastoral da Cultura, Pastoral da Educação, Pastoral Familiar, Pastoral da Juventude (PJ), Pastoral Litúrgica, Pastoral dos Migrantes, dos Nômades e da Mobilidade Humana, Pastoral da Mulher Marginalizada, Pastoral do Povo de Rua, Pastoral da Saúde e das DST/Aids, Pastoral Operária, Pastoral dos Pescadores, Pastoral da Pessoa Idosa, Pastorais Sociais (CÁRITAS Brasileira), Pastoral Universitária, Pastoral do Turismo e Pastoral Vocacional.
(*Texto de artigo de opinião elaborado pelo advogado e professor Lúcio Rangel A. Ortiz, atual coordenador da PASCOM da Paróquia Perpétuo Socorro de Americana - SP. Foi coordenador da PASCOM da Diocese de Ourinhos - SP de 2003 a 2006 e da PASCOM da Comunidade N. Sra. Aparecida de Primavera no biênio 2000/2001).
Fontes:
Blog dos Católicos Assumidos: http://catolicos-assumidos.blogspot.com/2008/03/ver-julgar-e-agir.html
Boran, Jorge. O Senso Crítico e o Método Ver-Julgar-Agir. São Paulo: Edições Loyola, 1977.
Camacho, Joaquim. Questão de Opinião. Jornal Fonte de Vida, Ourinhos: maio 2004.
Camacho, Márcio Gomes. Método Ver-Julgar-Agir-Rever-Celebrar. Jornal Fonte de Vida, Ourinhos: julho 2004.
Documentos da Resistência Popular: Roteiro como fazer análise de conjuntura: http://resistenciapopular-documentos.blogspot.com/2007/08/roteiro-para-fazer-anlise-de-conjuntura.html
Navarro, Afonso. Diocese em Missão e Pastoral Integral. São José dos Campos: SINE Central.
Pastorais e Organismos. Site Oficial da CNBB: http://www.cnbb.org.br/ns/modules/mastop_publish/?tac=Pastorais_e_Organismos
quinta-feira, 30 de julho de 2009
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